Crónica de Alexandre Honrado
Peão faz cheque aos reis
Os deputados vão de férias. Oiço atentamente o Estado da Nação, a sua última reflexão sazonal.
O Governo não é dos melhores; a oposição é das piores que temos tido.
Vejo com muita atenção o que se vai dizendo e gesticulando na Assembleia da República, afinal aquela é a nossa casa maior, a casa da Democracia, enquanto durar e lá tivermos quem nos represente, bem ou mal, a bem ou a mal, é um sintoma muito positivo. Enquanto isso durar, podemos escrever este texto, apreciá-lo, odiá-lo, excomungá-lo, até ignorá-lo, criticá-lo, enodoá-lo…essa é que é a verdade.
Entretanto, para lá da legislação, dos legisladores, e dos pobres que se contradizem deputando – vê-se que alguns odeiam os seus líderes e que outros nos odeiam simplesmente, juntando ainda alguns que só desejam o regresso de um D. Sebastião, quiçá um láparo suburbano, como um Desejado de antanho, que se arranham e coçam com todos os seus ácaros à solta – entretanto, para lá de tudo, há a vida real. A doença, o caos, o desemprego, a bazuca, os excessos, a falta de cidadania, que falta faz essa disciplina a esses que a desdenham!
Não podemos ficar todos em casa.
Não podemos – isso é bem pior – ficar todos na rua.
A carnificina tornou-se rotina.
O início de um texto de Cléber Vinícius do Amaral e de Frederico de Sousa Silva, acabado de chegar às minhas mãos, começa assim: “A descida ao mundo dos mortos (katábasis entre os gregos, descensus entre os latinos) é um expediente ou um topói longevo que remonta aos antigos mesopotâmicos e egípcios”. Subo ao mundo dos ainda vivos. Colo ideias, como se o fizesse àquele vaso recolhido na escavação, em cacos de tempo e outras funções gloriosas.
Numa das Associações onde trabalho, uma miúda chora, alega ter febre e dores de barriga e tem a confirmação na análise rápida da farmácia: é a Covid, na nova variante. Jovens colegas, cheios de piedade e solidários, dão-lhe abracinhos, fazem-lhe festas na cabeça, inalam, por assim dizer, o vírus tresloucado. Parecem ingleses, desses que abandonaram o pundonor, a europa comunitária e agora a sensatez em definitivo. A vida é a discoteca e o resto é parasita! São os sem personalidade com ritmo no corpo e sangue viral nas pobres veias.
Dizem-me aqui que a culpa é do Estado. Mais uma ideia cabotina.
Estado não se confunde com governo. O Estado é estruturado política, social e juridicamente, ocupando um território definido onde, normalmente, a lei máxima é uma constituição escrita – de onde também surge a legitimação de sua atuação e existência. É dirigido por um governo que possui soberania determinada tanto interna como externamente.
Em resumo, olhando as definições, o Estado somos nós. O governo é sempre…eles, mas fomos nós que o elegemos, com votos e abstenção.
Recebo no e-mail do Observatório uma notícia da ONU. Aparentemente, nem parece das Nações Unidas. Vou a ler… e é: No Dia Mundial do Xadrez, a ONU celebra o aumento do interesse pelo jogo.
As Nações Unidas destacam que os desportos e os jogos ajudam a humanidade a sobreviver em tempos de crise, reduzindo a ansiedade e melhorando a saúde mental; durante a pandemia de Covid-19, aumentaram os torneios de xadrez online.
Sempre joguei xadrez. Basta ler este texto onde em 64 quadrados a preto e branco, vejo a força dos peões e medito sobre as variantes que levam a tantos xeques-mates.
Alexandre Honrado
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